Ultimamente
um novo movimento religioso surgiu a partir da afirmação de que somente o nome
original de Jesus em hebraico tem validade espiritual. Esses irmãos acreditam
que é inútil pronunciarmos o nome do Messias em outra língua que não seja a
pronuncia literal do Hebraico. Rejeitando todas as traduções e transliterações
desse nome.
Assim, o nome
‘Jesus’ para esses grupos é uma invenção romana, um nome pagão que deve ser
rejeitado, sendo a única maneira correta de chamar e invocar o Messias é por
seu nome original Yeshua, ou Yehoshua e para outros Yaohushua.
Resolvemos pesquisar e
opinar acerca do assunto que parece preocupar muita gente inclusive alguns
espíritas e coloca mais confusão desnecessária numa área já conturbada, como é
a religiosa.
Comecemos esclarecendo o que significam tradução e
transliteração.
Transliterar
é tentar fazer com que cada letra de um alfabeto tenha sua correspondente em
outro com o mesmo som ou letra e som aproximados. Certos fonemas que existem
numa língua podem não existir em outra, necessitando adaptações para se
escrever e pronunciar um nome estrangeiro na própria língua. A transliteração
trabalha com o significado o mais preciso possível da palavra.
Quando dois idiomas usam o mesmo alfabeto como, por
exemplo, o português, o inglês e o espanhol, não há necessidade de
transliteração apenas de tradução.
Traduzir é interpretar o significado de
uma palavra ou texto em outra língua. A tradução ao contrário da transliteração
admite interpretação, ou seja, a visão do tradutor sobre material estudado.
Algumas vezes pode acontecer da tradução e da transliteração serem iguais.
Tomemos
como exemplo a palavra ‘Cefas’ que foi o nome dado por Jesus a Simão [1], o seu
significado em aramaico é Pedra ou rocha, mais tarde foi transliterado para o
grego ‘Pétros’ [2] e depois para o Latim ‘Petrus’ traduzido para o português
como ‘Pedro’. Mudaram algumas letras e sons, mas o significado permaneceu o
mesmo.
O mesmo aconteceu com o
nome ‘Jesus’ que é uma transliteração, uma adaptação para o português do Latim
(Iesus), que transliterou do grego (Ίησοῦς – Iesous), que por sua vez
transliterou do hebraico antigo (Yeshua uma forma abreviada em aramaico do
hebraico Yehoshua que significa Josué) [3].
Isso
aconteceu porque os rabinos de Alexandria (a lenda diz que foram 70) traduziram
as escrituras do Antigo Testamento em Hebraico (língua que já não era pura
tendo sofrido várias influências em sua História: Egípcia, Babilônica, Fenícia,
aramaica…) para o grego no século III antes de Cristo, chamada Septuaginta onde
o nome Josué ou Jesus -Iesous- era muito comum. Depois surgiu o novo testamento
que foi quase todo escrito em grego e por fim com a supremacia da Igreja
Católica Apostólica Romana a tradução da Bíblia passou para o Latim por São
Jerônimo por ordem do Papa Dâmaso.
Dessa
forma, o nome ‘Jesus’ não é uma invenção, mas, o resultado de um processo
gradual de adaptação fonética necessária e indispensável, embora nem sempre
precisa pois sempre existem perdas, principalmente quando se trata de nomes
próprios.
É justamente essa perda
fonética que alegam ser um dos principais motivos de rejeição do nome Jesus,
pois segundo esses grupos, ocorreu uma alteração dos valores espirituais que
eram expressos nas palavras originais. É como se Deus não levasse em conta as
orações ou qualquer outra demonstração de religiosidade quando é usado o nome
Jesus, em vez dos originais Aramaico/Hebraico.
Esse
argumento seria válido se o Criador dependesse unicamente da escrita e da
vocalização para ser adorado ou para atender as reinvindicações humanas,
entretanto, para Deus o mais importante são o pensamento e a intenção. A
palavra escrita ou falada é apenas a exteriorização do pensamento do individuo,
uma forma material da expressão interior.
Imaginemos
uma pessoa que tambem se chame Jesus, quando nos relacionarmos com ela não
teremos a mesma reverencia que teríamos ao elevarmos o pensamento ao mestre da
Galileia, porquanto é pelo pensamento que faremos a distinção entre Jesus o
Cristo, de Jesus o vizinho. Desse modo, é de nenhuma importância se
pronunciamos o nome do Messias nessa ou noutra língua, dessa ou de outra forma,
uma vez que o mais importante para Deus é a quem estamos direcionando nossa
intenção.
Afirmar que Deus se
apega a esses detalhes fonéticos é diminuir o Todo Poderoso, é limitar a
infinitude da sua sabedoria e restringir a capacidade do Senhor de perscrutar o
íntimo, o espírito, o pensamento. O mesmo se aplica a Jesus que é o governador
do planeta terra, chama-lo Yeshua, Yehoshua, Yaohushua, Yahushua ou
simplesmente Jesus desde que a intenção seja o Messias divino dá no mesmo.
Em o Livro dos
Espíritos [4] questão 649 Allan Kardec pergunta aos Espíritos superiores o
seguinte:
Em que consiste a adoração?
R – É a elevação do pensamento a Deus. Pela
adoração a alma* se aproxima dele.
A Realeza de Jesus
O reino de
Jesus não é deste mundo. Isso todos compreendem. Mas sobre a Terra ele não terá
também uma realeza? O título de rei nem sempre exige o exercício do poder
temporal. Ele é dado, por consenso unânime, aos que, por seu gênio, se colocam
em primeiro lugar em alguma atividade, dominando o seu século e influindo sobre
o progresso da humanidade. É nesse sentido que se diz: o rei ou o príncipe dos
filósofos, dos artistas, dos poetas, dos escritores, etc. Essa realeza, que
nasce do mérito pessoal, consagrada pela posterioridade, não tem muitas vezes
maior preponderância que a dos reis coroados? Ela é imperecível, enquanto a
outra depende das circunstâncias; ela é sempre abençoada pelas gerações
futuras, enquanto a outra é, às vezes, amaldiçoada. A realeza terrena acaba com
a vida, mas a realeza moral continua a imperar, sobretudo, depois da morte. Sob
esse aspecto, Jesus não é um rei mais poderoso que muitos potentados? Foi com
razão, portanto, que ele disse a Pilatos: Eu sou rei, mas o meu reino não é
deste mundo [5].
Jefferson Moura de Lemos
[1]
Mateus 16.18
[4]
Kardec, Allan. O livro dos Espíritos. IDE, 82ª edição, 1994
*os
grifos são nossos
[5]
Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de José Herculano
Pires
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