“Logo se reconhecerá que o Espiritismo ressalta a cada passo do próprio texto das Escrituras Sagradas. Os Espíritos não vêm, pois, destruir a religião, como alguns o pretendem, mas, ao contrário, vêm confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis.” (O Livro dos Espíritos, questão 1010)

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

A IMPORTÂNCIA DO NOME HEBRAICO DE JESUS NO ESPIRITISMO



    Ultimamente um novo movimento religioso surgiu a partir da afirmação de que somente o nome original de Jesus em hebraico tem validade espiritual. Esses irmãos acreditam que é inútil pronunciarmos o nome do Messias em outra língua que não seja a pronuncia literal do Hebraico. Rejeitando todas as traduções e transliterações desse nome.
      Assim, o nome ‘Jesus’ para esses grupos é uma invenção romana, um nome pagão que deve ser rejeitado, sendo a única maneira correta de chamar e invocar o Messias é por seu nome original Yeshua, ou Yehoshua e para outros Yaohushua.
        Resolvemos pesquisar e opinar acerca do assunto que parece preocupar muita gente inclusive alguns espíritas e coloca mais confusão desnecessária numa área já conturbada, como é a religiosa.
          Comecemos esclarecendo o que significam tradução e transliteração.

          Transliterar é tentar fazer com que cada letra de um alfabeto tenha sua correspondente em outro com o mesmo som ou letra e som aproximados. Certos fonemas que existem numa língua podem não existir em outra, necessitando adaptações para se escrever e pronunciar um nome estrangeiro na própria língua. A transliteração trabalha com o significado o mais preciso possível da palavra.
Quando dois idiomas usam o mesmo alfabeto como, por exemplo, o português, o inglês e o espanhol, não há necessidade de transliteração apenas de tradução.
            Traduzir é interpretar o significado de uma palavra ou texto em outra língua. A tradução ao contrário da transliteração admite interpretação, ou seja, a visão do tradutor sobre material estudado. Algumas vezes pode acontecer da tradução e da transliteração serem iguais.

           Tomemos como exemplo a palavra ‘Cefas’ que foi o nome dado por Jesus a Simão [1], o seu significado em aramaico é Pedra ou rocha, mais tarde foi transliterado para o grego ‘Pétros’ [2] e depois para o Latim ‘Petrus’ traduzido para o português como ‘Pedro’. Mudaram algumas letras e sons, mas o significado permaneceu o mesmo.
          O mesmo aconteceu com o nome ‘Jesus’ que é uma transliteração, uma adaptação para o português do Latim (Iesus), que transliterou do grego (Ίησοῦς – Iesous), que por sua vez transliterou do hebraico antigo (Yeshua uma forma abreviada em aramaico do hebraico Yehoshua que significa Josué) [3].
         Isso aconteceu porque os rabinos de Alexandria (a lenda diz que foram 70) traduziram as escrituras do Antigo Testamento em Hebraico (língua que já não era pura tendo sofrido várias influências em sua História: Egípcia, Babilônica, Fenícia, aramaica…) para o grego no século III antes de Cristo, chamada Septuaginta onde o nome Josué ou Jesus -Iesous- era muito comum. Depois surgiu o novo testamento que foi quase todo escrito em grego e por fim com a supremacia da Igreja Católica Apostólica Romana a tradução da Bíblia passou para o Latim por São Jerônimo por ordem do Papa Dâmaso.
           Dessa forma, o nome ‘Jesus’ não é uma invenção, mas, o resultado de um processo gradual de adaptação fonética necessária e indispensável, embora nem sempre precisa pois sempre existem perdas, principalmente quando se trata de nomes próprios.
        É justamente essa perda fonética que alegam ser um dos principais motivos de rejeição do nome Jesus, pois segundo esses grupos, ocorreu uma alteração dos valores espirituais que eram expressos nas palavras originais. É como se Deus não levasse em conta as orações ou qualquer outra demonstração de religiosidade quando é usado o nome Jesus, em vez dos originais Aramaico/Hebraico.
            Esse argumento seria válido se o Criador dependesse unicamente da escrita e da vocalização para ser adorado ou para atender as reinvindicações humanas, entretanto, para Deus o mais importante são o pensamento e a intenção. A palavra escrita ou falada é apenas a exteriorização do pensamento do individuo, uma forma material da expressão interior.
           Imaginemos uma pessoa que tambem se chame Jesus, quando nos relacionarmos com ela não teremos a mesma reverencia que teríamos ao elevarmos o pensamento ao mestre da Galileia, porquanto é pelo pensamento que faremos a distinção entre Jesus o Cristo, de Jesus o vizinho. Desse modo, é de nenhuma importância se pronunciamos o nome do Messias nessa ou noutra língua, dessa ou de outra forma, uma vez que o mais importante para Deus é a quem estamos direcionando nossa intenção.
       Afirmar que Deus se apega a esses detalhes fonéticos é diminuir o Todo Poderoso, é limitar a infinitude da sua sabedoria e restringir a capacidade do Senhor de perscrutar o íntimo, o espírito, o pensamento. O mesmo se aplica a Jesus que é o governador do planeta terra, chama-lo Yeshua, Yehoshua, Yaohushua, Yahushua ou simplesmente Jesus desde que a intenção seja o Messias divino dá no mesmo.
          Em o Livro dos Espíritos [4] questão 649 Allan Kardec pergunta aos Espíritos superiores o seguinte:

Em que consiste a adoração?
R – É a elevação do pensamento a Deus. Pela adoração a alma* se aproxima dele.


A Realeza de Jesus
           O reino de Jesus não é deste mundo. Isso todos compreendem. Mas sobre a Terra ele não terá também uma realeza? O título de rei nem sempre exige o exercício do poder temporal. Ele é dado, por consenso unânime, aos que, por seu gênio, se colocam em primeiro lugar em alguma atividade, dominando o seu século e influindo sobre o progresso da humanidade. É nesse sentido que se diz: o rei ou o príncipe dos filósofos, dos artistas, dos poetas, dos escritores, etc. Essa realeza, que nasce do mérito pessoal, consagrada pela posterioridade, não tem muitas vezes maior preponderância que a dos reis coroados? Ela é imperecível, enquanto a outra depende das circunstâncias; ela é sempre abençoada pelas gerações futuras, enquanto a outra é, às vezes, amaldiçoada. A realeza terrena acaba com a vida, mas a realeza moral continua a imperar, sobretudo, depois da morte. Sob esse aspecto, Jesus não é um rei mais poderoso que muitos potentados? Foi com razão, portanto, que ele disse a Pilatos: Eu sou rei, mas o meu reino não é deste mundo [5].



 Jefferson Moura de Lemos





[1] Mateus 16.18
[4] Kardec, Allan. O livro dos Espíritos. IDE, 82ª edição, 1994
*os grifos são nossos
[5] Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de José Herculano Pires

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