Um dos princípios daqueles que defendem
a hipótese da terra plana é que as pessoas devem confiar em seus próprios
sentidos, no momento de averiguar a verdadeira configuração da terra e dos
astros, a percepção visual é bastante valorizada. Segundo esse “método” de
exploração astronômica, se deve rejeitar todas as descobertas científicas
desenvolvidas durante séculos de estudos, cálculos, pesquisas experimentais e
observacionais para aceitar somente aquilo que os nossos cinco sentidos
demonstrarem que é real, prezando acima de tudo a observação pessoal em
detrimento do método científico. A isso chamam de Astronomia Zetética.
Entretanto, esse pessoal parece esquecer que o nosso sistema sensorial é
limitado e muitos fenômenos naturais tornam-se acessíveis unicamente através de
instrumentação adequada, onde a causa real de determinado efeito pode ser
analisado e mensurado.
È muito simples de avaliarmos isso, durante milhares de anos a humanidade
acreditou que todas as doenças tinham origem sobrenatural, pois ignoravam a
ação dos microrganismos como causa de grande parte das enfermidades e epidemias
que ceifavam a vida de milhões de indivíduos, principalmente pela falta de
limpeza naqueles tempos de ignorância, sobretudo na idade média. Essa vida
microbiana não pode ser visualizada a não ser por meio de instrumentos como o
microscópio. Ou seja, o conhecimento científico acumulado e o desenvolvimento
de aparelhos permitiram a investigação desse mundo microscópico e
consequentemente a descoberta de medicamentos, assim como, o incremento de
melhores hábitos de higiene.
De modo semelhante, o macrocosmo não pode ser estudado fiando-se exclusivamente
naquilo que podemos perceber a olho nu. Na antiguidade, os povos que observavam
mais atentamente o céu, chegaram a uma noção mais ou menos uniforme em todos os
continentes sobre a configuração da terra. Todavia, esses dados colhidos,
ofereciam apenas um aspecto aparente e muitas vezes ilusório do mundo e dos
astros, visto que todos eram obtidos por meio exclusivamente dos sentidos.
Aos olhos desses observadores antigos, o céu parecia verdadeiramente uma cúpula
sólida cujas bordas assentavam-se sobre as águas do oceano. As terras
continentais, rodeadas pelas águas, que pareciam sem fim, afigurava-se como uma
rosca a deriva, formando um bloco único. O Sol e as estrelas grudados na cúpula
moviam-se junto com ela, ou quando muito, passeavam nela em movimentos
independentes. Acima da cúpula moravam as divindades e segundo algumas
mitologias, essa estrutura também sustentava um oceano celeste, que os antigos
imaginavam preencher o universo, qual imenso reservatório aquático. Essas
ideias passaram a fazer parte da mitologia religiosa de vários povos, inclusive
dos hebreus.
Alguns adeptos modernos da suposição antiga da terra plana ainda acreditam
piamente na existência desse oceano celeste, baseados unicamente na crença
religiosa. Chegam ao ponto de negar a existência da gravidade e propõem
hipóteses absurdas e até infantis para explicarem determinados fenômenos
somente elucidados racionalmente e experimentalmente pela gravidade. Existem
vários experimentos que provam a existência da gravidade, embora ainda não a
conheçamos totalmente, mas, vemos claramente os seus efeitos.
Por isso, lamentável que nos tempos atuais exista uma tendência irracional de
desvalorizar o conhecimento científico dando voz a achismos e mitologias
antigas. É preciso dizer que o reconhecimento daquilo que a ciência consegue
demonstrar não desmerece a religião nem nos torna ateus. Aliás, o que melhor
demonstraria o poder de Deus: a gravidade, nos colocando de cabeça para baixo
numa terra esférica ou simplesmente ficarmos em pé num terra plana? Deus não é
Deus do impossível? O que é mais difícil? O mais difícil é a gravidade e por
isso mesmo, esse fenômeno natural comprova o tremendo poder do nosso Criador.
Infelizmente grande parte dos nossos irmãos terraplanistas, não se preocupam
muito com provas científicas ou experimentos que lhes contrarie a opinião e a
crença. Irão sempre negar e contrapor hipóteses contrárias, não que devemos
aceitar tudo sem questionar, mas a obstinação de alguns desses adeptos chega ao
fanatismo, principalmente por não se aperceberem que suas afirmações acerca de
conspirações internacionais são em sua maioria contraditórias. Aliás o que sustenta
essa hipótese terraplanista é justamente a disseminação de conspirações
infundadas, para justificar suas ideias.
A ciência pode não ser perfeita e não ter todas as respostas, porém ela é a pedra de toque para não cairmos no fanatismo religioso, na barbárie e na desinformação, propagadas por indivíduos e organizações que apenas querem impor suas ideologias. Portanto, valorizemos o conhecimento científico sem deixarmos as nossas crenças religiosas de lado, mas, tentando encontrar um equilíbrio satisfatório, pois, se Deus é o Criador, a ciência é o instrumento do homem para desvendar os segredos dessa criação maravilhosa.
Jefferson Moura de Lemos
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