“Quando entrares na terra que o Senhor, teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações. - Entre ti se não achará quem faça passar pelo fogo o seu filho ou sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, - Nem encantador de encantamento, nem quem consulte um espírito adivinhante, nem mágico, nem quem consulte os mortos. – Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor, teu Deus, as lança fora de ti. – Perfeito serás, como o Senhor, teu Deus. – Porque essas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores, porém a ti o Senhor, teu Deus, não permitiu tal coisa.”
(Deuteronômio 18:9-14)¹
Frequentemente irmãos nossos de outras ramificações do cristianismo, buscam nestes versículos a confirmação de que a comunicação com os “mortos” contraria a lei de Deus. Mas basta uma leitura atenta e observaremos certos detalhes que às vezes escapam sobre as passagens mencionadas.
Em primeiro lugar é preciso verificar as circunstâncias em que essa proibição foi proferida. Segundo o relato Bíblico, os hebreus estavam entrando em Canaã (hoje chamada Palestina), nesse tempo, os habitantes da região tinham hábitos culturais e religiosos um pouco diferentes dos hebreus, digo um pouco, porque tanto Israelitas quanto cananeus pertenciam ao mesmo grupo étnico, eram semitas. Desse modo, compartilhavam algumas crenças semelhantes. O único diferencial era que os hebreus estavam em vias de tornarem-se monoteístas pela liderança espiritual de Moisés, pois até então eram Henoteístas [2].
Além do mais, em séculos de submissão, os hebreus tambem incorporaram elementos culturais egípcios. Durante a caminhada em direção à terra prometida ainda não haviam se despojado totalmente desses costumes, basta lembrar o bezerro de ouro. Mesmo a peregrinação de quarenta anos pelo deserto dificilmente modificaria tradições egípcias tão arraigadas.
Assim, ao chegarem à terra de Canaã, entrariam em contato com povos idolatras como os egípcios, que igualmente praticavam a magia, a adivinhação e mais do que isso, adoravam deuses sanguinários. E assim como os egípcios, tambem consultavam os espíritos dos mortos.
É de notar-se que na prática do mediunismo, esses povos não eram movidos, na maioria das vezes, por sentimentos piedosos, mas, levados por paixões inferiores, entravam em contato com entidades espirituais grosseiras e perversas que exigiam sacrifícios e oferendas em troca de favores.
Os hebreus, embora escolhidos para propagarem a crença no Deus único, eram um povo igualmente rude e indisciplinado sempre prontos a adotar os costumes dos povos que iriam conquistar. Por essa razão, a proibição mosaica era uma norma necessária àquela realidade e visava preservá-los da influência desses espíritos inferiores, “não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações”, que poderiam desviá-los da crença monoteísta, “é abominação ao senhor, teu Deus”. Mesmo assim, várias vezes os ensinamentos mosaicos não foram observados [3].
O Espiritismo não compactua com idolatrias, nem ritualismos ou práticas mágicas e adivinhações. O Espiritismo entra em comunicação com o mundo espiritual com finalidades sérias e elevadas. Religião monoteísta e Cristã estuda o Evangelho de Jesus e exercita a caridade moral e material.
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações” – Allan Kardec
O Espiritismo adverte sobre o perigo do envolvimento com ambientes onde haja intercâmbio mercenário com o mundo espiritual. Enfim, a proibição ainda é válida na situação em que se encontravam os hebreus naquele tempo e que infelizmente ainda existe nos dias atuais ocorrendo em muitos rituais de origem africana aqui no Brasil ou cultos semelhantes em outros países.
Existem tambem aqueles que exploram a credulidade alheia utilizando o rótulo de “Espírita”, e instituições que usam o nome “Centro Espírita” quando na verdade praticam outro tipo de espiritualismo.
Jefferson Moura de Lemos
Referencias:
[1] Bíblia Sagrada. João Ferreira de Almeida. Ed. 1995 São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005.
[2] para uma melhor compreensão acerca do Henoteísmo hebraico ler os nossos artigos: Abraão e os Espíritos do Senhor e Abraão e o sacrifício de Isaque.
[3] (Juízes 2:10-15; 6:1).
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