“Logo se reconhecerá que o Espiritismo ressalta a cada passo do próprio texto das Escrituras Sagradas. Os Espíritos não vêm, pois, destruir a religião, como alguns o pretendem, mas, ao contrário, vêm confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis.” (O Livro dos Espíritos, questão 1010)

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

DEUS, JESUS E A MITOLOGIA BÍBLICA


     Quase sempre, quando nos referimos à mitologia bíblica e afirmamos, por exemplo, que Adão e Eva não existiram como pessoas, mas, foram personagens mitológicos adaptados de outras narrativas muito mais antigas, o pensamento da maioria das pessoas é de que estamos afirmando que a Bíblia é mentirosa, o que não é verdade.
 
     Ao contrário do que muita gente acredita a mitologia não é sinônimo de mentira. As narrativas mitológicas tinham a função de organizar o caos, isto é, de dar sentido aos fenômenos observados pelos homens da antiguidade, colocando em ordem a realidade através de personagens e símbolos. Essas explicações alegóricas estavam estreitamente relacionadas às condições culturais e geográficas particulares de cada região de origem.

     Então, a mitologia não era uma mentira intencional, apenas uma forma imperfeita de interpretar o mundo segundo os limitados conhecimentos dos povos da antiguidade. Com o advento da ciência a mitologia foi sendo substituída pelo método científico.

     No caso a Bíblia, o relato da criação do mundo e da humanidade tem relação direta com os mitos do oriente médio, em especial os da região sul da Mesopotâmia, local de origem dos judeus [1].

     As maiores duvidas dos cristãos tradicionais relacionadas a esse assunto são: se o Gênesis é mitológico por que Deus permitiu que esse engano perdurasse por tantos séculos? Por qual motivo o Todo Poderoso não revelou a Moisés e aos profetas a verdade sobre a evolução humana? Por que razão Jesus não expôs  isso aos seus discípulos?

     A resposta é extremamente simples, os homens daquela época não teriam parâmetros para avaliar uma revelação dessas, tornando totalmente nulo os esforços de fazê-los compreender o processo evolutivo. Não existiam vocábulos e muito menos representações mentais ou materiais que pudessem servir como modelo de comparação. Enfim, seria inútil antecipar as descobertas científicas do futuro para Moisés [2] ou os profetas, relacionadas às origens do universo e do homem.

     Assim, Deus através dos espíritos superiores permitiu que as narrativas mitológicas se desenvolvessem como forma de suprir o vazio, a desordem, pois o homem, em sua curiosidade natural necessita a tudo elucidar e organizar, principalmente com relação a sua própria origem [3]. Desse modo, a mitologia supriu o desejo de explicações da humanidade até que a ciência surgisse e pudesse trazer respostas cada vez mais próximas da realidade objetiva.

     Do mesmo modo, Jesus acomodou-se à mitologia do povo onde encarnou (os judeus). Embora sabendo a verdade, O Cristo não poderia refutar as crenças dos seus contemporâneos pois eles também não assimilariam as suas palavras, o que seria uma pedra de tropeço para que o ensino da boa nova pudesse alcançar o coração dos povos ainda apegados aos ritos e ao mito.

     Mas, o Senhor garantiu que aquilo que Ele não poderia ensinar naquele momento, seria apresentado no futuro [4], pois “nada há escondido que não venha a ser revelado” [5].




Jefferson Moura de Lemos



[1] Josué 24:2
[2] Atualmente já se sabe que Moisés não escreveu o Pentateuco, mas, muitos dos seus ensinamentos foram redigidos séculos depois, no pós-exílio.
[3] (Gênesis 2:20) “Adão” personificando a humanidade, nomeia os animais , ou seja, organiza a confusão.
[4] João 16:12
[5] Marcos 4:22

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