Quase sempre,
quando nos referimos à mitologia bíblica e afirmamos, por exemplo, que Adão e
Eva não existiram como pessoas, mas, foram personagens mitológicos adaptados de
outras narrativas muito mais antigas, o pensamento da maioria das pessoas é de
que estamos afirmando que a Bíblia é mentirosa, o que não é verdade.
Ao contrário do que muita gente acredita a
mitologia não é sinônimo de mentira. As narrativas mitológicas tinham a função
de organizar o caos, isto é, de dar sentido aos fenômenos observados pelos
homens da antiguidade, colocando em ordem a realidade através de personagens e
símbolos. Essas explicações alegóricas estavam estreitamente relacionadas às
condições culturais e geográficas particulares de cada região de origem.
Então, a mitologia não era uma mentira intencional,
apenas uma forma imperfeita de interpretar o mundo segundo os limitados
conhecimentos dos povos da antiguidade. Com o advento da ciência a mitologia
foi sendo substituída pelo método científico.
No caso a Bíblia, o relato da criação do mundo e da
humanidade tem relação direta com os mitos do oriente médio, em especial os da
região sul da Mesopotâmia, local de origem dos judeus [1].
As maiores duvidas dos cristãos tradicionais
relacionadas a esse assunto são: se o Gênesis é mitológico por que Deus
permitiu que esse engano perdurasse por tantos séculos? Por qual motivo o Todo
Poderoso não revelou a Moisés e aos profetas a verdade sobre a evolução humana?
Por que razão Jesus não expôs isso aos seus discípulos?
A resposta é extremamente simples, os homens
daquela época não teriam parâmetros para avaliar uma revelação dessas, tornando
totalmente nulo os esforços de fazê-los compreender o processo evolutivo. Não
existiam vocábulos e muito menos representações mentais ou materiais que
pudessem servir como modelo de comparação. Enfim, seria inútil antecipar as
descobertas científicas do futuro para Moisés [2] ou os profetas, relacionadas
às origens do universo e do homem.
Assim, Deus através dos espíritos superiores
permitiu que as narrativas mitológicas se desenvolvessem como forma de suprir o
vazio, a desordem, pois o homem, em sua curiosidade natural necessita a tudo
elucidar e organizar, principalmente com relação a sua própria origem [3]. Desse
modo, a mitologia supriu o desejo de explicações da humanidade até que a
ciência surgisse e pudesse trazer respostas cada vez mais próximas da realidade
objetiva.
Do mesmo modo, Jesus acomodou-se à mitologia do
povo onde encarnou (os judeus). Embora sabendo a verdade, O Cristo não poderia
refutar as crenças dos seus contemporâneos pois eles também não assimilariam as
suas palavras, o que seria uma pedra de tropeço para que o ensino da boa nova
pudesse alcançar o coração dos povos ainda apegados aos ritos e ao mito.
Mas, o Senhor garantiu que aquilo que Ele não
poderia ensinar naquele momento, seria apresentado no futuro [4], pois “nada há
escondido que não venha a ser revelado” [5].
Jefferson Moura de Lemos
[1] Josué
24:2
[2]
Atualmente já se sabe que Moisés não escreveu o Pentateuco, mas, muitos dos
seus ensinamentos foram redigidos séculos depois, no pós-exílio.
[3]
(Gênesis 2:20) “Adão” personificando a humanidade, nomeia os animais , ou seja,
organiza a confusão.
[4] João
16:12
[5]
Marcos 4:22
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