“Logo se reconhecerá que o Espiritismo ressalta a cada passo do próprio texto das Escrituras Sagradas. Os Espíritos não vêm, pois, destruir a religião, como alguns o pretendem, mas, ao contrário, vêm confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis.” (O Livro dos Espíritos, questão 1010)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

JACÓ, ESAÚ E O DETERMINISMO INCONDICIONAL


“Como está escrito: Amei Jacó e aborreci a Esaú.”

(Romanos 9:13)¹

         Segundo o costume dos hebreus, o filho mais velho herdava os bens do pai tornando-se o chefe do Clã. Os filhos do patriarca Isaque e netos de Abraão, Jacó e Esaú [2], segundo o texto bíblico, já disputavam o direito da primogenitura ainda no ventre materno.
         É muito provável que essa história seja uma lenda, um resquício de tradição oral adaptada e inserida pelo escriba, responsável pela redação do livro, com a finalidade de explicar a origem de uma rivalidade verdadeira ocorrida entre os gêmeos.
         Bem, sendo lenda ou não, suscitou opiniões de alguns personagens bíblicos como o profeta Malaquias [3], baseado nele tambem o apóstolo Paulo deixou comentários [4].  Nas anotações do apóstolo dos gentios se lê que Deus amava Jacó e Aborrecia ou odiava a Esaú. Para o apóstolo, Jacó estaria predestinado por Deus para herdar a primogenitura, enquanto que Esaú o seu destino já estava determinado: seria servo do irmão mais novo. Assim, a responsabilidade dessa concorrência foi atribuída ao próprio Deus.
         Paulo no seu raciocínio dos textos chegou a ideia da predestinação como uma determinação inflexível decidindo os destinos de cada pessoa sem a participação do livre arbítrio.
         Muitos teólogos cristãos, raciocinando com o apóstolo, desenvolveram e disseminaram essa crença, que trás inúmeros problemas morais:

Deus elege a alguns em detrimento de outros, sem nenhum tipo de critério, apenas por sua vontade que é soberana.

         É o mesmo que dizer que nossa condição atual seja de pobreza ou de riqueza, de má índole ou de bom caráter, de perdição ou de salvação… Tem como causa a influência de Deus em nossa vida segundo a sua determinação e não pelo uso do nosso Livre arbítrio. Para Paulo não havia injustiça nisto.
         Mas para nós Espíritas, que vemos em Deus a justiça suprema e infinita, como conciliar essa ideia de determinismo divino com o livre arbítrio? Como compreender a soberania de Deus em nossas vidas sem diminuir a nossa responsabilidade nas escolhas?
         Para compreendermos Malaquias e a apreciação de Paulo é preciso raciocinar o seguinte: sendo Deus infinito, não pode ser o amor infinito, e ao mesmo tempo o ódio infinito. Todavia, homens agressivos como eram os hebreus, os Espíritos do Senhor conduziam através do medo, assim, vendo um Deus de atitudes humanas, o temiam, atribuindo à sua determinação todos os acontecimentos e Paulo extrapola retirando o livre arbítrio.
         Somente a Doutrina da reencarnação, que Paulo conhecia, mas não a tinha como crença principal, e a lei de ação e reação, colocam em harmonia posições tão antagônicas em concordância com a justiça infinita de Deus e a sua misericórdia.
         Quando reencarnamos trazemos uma programação. Essa programação é escolhida pelo próprio espírito, quando este já está em condições de escolher com conhecimento de causa. Caso contrário, a espiritualidade superior, que se encontra mais apta a captar o pensamento divino escolherá pelo reencarnante suas provações ou expiações, sempre visando ao seu melhoramento (é o determinismo).
          Mesmo assim, a sua liberdade de ação continua sendo exercitada, pois numa prova, por exemplo, a sua escolha determinará se sairá vencedor ou não da prova escolhida.
        No caso de uma expiação Ela poderá seguir seu curso, de acordo com planejamento ou sofrer alterações, segundo as novas atitudes de renovação do espírito encarnado. Sendo-lhe abrandado ou mesmo anulado.
         No caso de Jacó e Esaú, se percebe no texto, que havia uma programação, (Jacó deveria ser um dos patriarcas do povo hebreu, segundo a revelação de um espírito do Senhor a Rebeca), mas teria que passar por uma provação, ele e o irmão eram dois espíritos que mantinham uma desavença antes do nascimento. Eram dois desafetos que reencarnaram como irmãos para sobrepujarem a animosidade recíproca e chegarem a um entendimento. Após o reencarne mantiveram a animosidade através da rivalidade pela primogenitura. Finalmente depois de um longo período separados conseguiram chegar a certo consenso no momento do reencontro. E a missão de Jacó seguiu os rumos determinados pelo mundo espiritual superior.
         O Determinismo e o livre arbítrio estarão sempre presentes, no caminho evolutivo do espírito. Deus não determina a seu bel prazer os destinos humanos, estabeleceu uma Lei. Toda vez que o espírito comete uma ação, haverá o determinismo da Lei de ação e reação que retornará para ele beneficiando-o se fez o bem ou recolocando-o no caminho pelo resgate ou provação.
           Esse determinismo está mais de acordo com a Sua justiça e sabedoria infinitas.
         Tenhamos discernimento nas nossas escolhas, pois inexoravelmente colheremos somente aquilo que plantamos.



 Jefferson Moura de Lemos




[1] Bíblia Sagrada. João Ferreira de Almeida. Ed. 1995 São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005.
[2] (Gênesis 25: 24)
[3] (Malaquias 1:2-3)
[4] (Romanos 9:11-13; Hebreus 12:16)

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