A parábola do Festim das Bodas é bastante explícita. Ela esclarece que as primeiras pessoas convidadas para a festividade recusaram-se a comparecer, alegando uma série de razões. Posteriormente o convite tornou-se extensivo a todas as coletividades; entretanto, no final da parábola, deparamos com a afirmação de Jesus de que um homem foi encontrado, no festim sem as vestes nupciais, o qual, por ordem do Senhor, foi “atado de pés e mãos” e atirado “onde há choros e ranger de dentes”.
Embora ao enunciar o ensinamento sobre o “atai-o de pés e mãos” o Mestre o tenha feito sob a forma de parábola, a violência de expressão contida no texto atenta frontalmente contra a mansuetude e a brandura invariavelmente empregadas por Jesus Cristo na revelação da sua Doutrina.
A linguagem usada é uma consequência do espírito violento do judeu da época, ainda vinculado às formas fortes empregadas por Moisés vinte séculos antes. Muitos judeus, contemporâneos do Mestre Nazareno, ainda não compreendiam outra maneira de comunicação senão a violência. O direito da força prevalecia sobre a força do direito.
No decorrer dos séculos os Evangelhos de Jesus sofreram várias traduções e é indubitável que também tenham sofrido inúmeras deformações, dado que ainda há bem pouco tempo prevaleciam no campo religioso os interesses de grupos e de pessoas, e a violência era o apanágio até das religiões do ramo cristão, as quais alimentavam o odioso sistema de imposição da crença pela força, e prevalência da lei do “crê ou morre”.
A consagração da violência era assim considerada normal entre os nossos antepassados e o fato do contexto evangélico encerrar narrações desse teor era encarado sem qualquer relutância.
Na atualidade a leitura de uma passagem evangélica dessa natureza conflita com a linguagem empregada nas mensagens que os nossos benfeitores espirituais nos trazem, embora se deduza das entrelinhas da parábola que ela faz alusão aos obstinados e recalcitrantes que deverão abandonar a Terra, um dia, quando ela se converter num mundo feliz que não mais comporte Espíritos que geram desequilíbrios e que são fatores da infelicidade do gênero humano.
Após se esgotarem todos os recursos de persuasão, após terem os chamados Espíritos maus malbaratado todas as oportunidades de redenção concedidas por Deus, eles serão afastados deste mundo, “com os pés e mãos atados”, isto é, sem possibilidade de continuarem a agir como vinham fazendo, renascendo num planeta de elevação mais rudimentar, onde ainda impera o “choro e ranger de dentes”, onde merecerão, por excesso de misericórdia de Deus, a graça de continuarem a palmilhar, através da lei da reencarnação, a senda do progresso, embora em condições iniciais aflitivas, para, no convívio com outras humanidades, aprenderem o “amar ao próximo como a si mesmos”, caminhando para Deus, sem outro prejuízo senão aquele de não terem tirado o devido proveito dos benefícios das reencarnações que desfrutaram.
A Justiça Divina é extremamente tolerante e propicia ao Espírito em evolução todas as oportunidades possíveis de soerguimento. Como todas as coisas têm um limite, é óbvio que a obstinação de um espírito na prática do mal também tenha uma limitação.
O Mestre afirmou que “os tempos eram chegados”, e acrescentou ainda “a hora vem e agora é”, em que os homens devem assumir um papel adequado no seio da humanidade enquadrando-se nas leis eternas do Criador. Aqueles que persistirem no erro não terão outras alternativas diante de si, senão aquela de serem afastados da Terra e relegados para lugares de evolução primitiva, onde possam reiniciar a tarefa sob o império de sofrimentos depuradores mais agudos e o guante de novas tribulações.
“Atai-o de pés e mãos” é, pois, uma sentença que deve ser devidamente interpretada, pois, embora preferíssemos não atribuí-la a Jesus Cristo, ela está contida no texto evangélico e deve ser aceita com todas as suas consequências, aplicando-se àqueles que, nos tempos que se avizinham, ou melhor, no terceiro milênio, quando se espera a implantação do Reinado do Espírito na Terra, não se tenham reformado interiormente, ao ponto de merecerem permanência na Terra, que será então um planeta feliz.
Paulo Alves Godoy
Extraído do Livro: Os Padrões Evangélicos
2ª Edição: FEESP; São Paulo; 1989
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