As reencarnações simultâneas é um assunto
que tem sido muito comentado ultimamente na internet. Essa ideia se fundamenta
no conceito de fragmentos ou centelhas da alma, onde um mesmo espírito pode
enviar fragmentos de si próprio para vários lugares, reencarnando em diferentes
corpos ao mesmo tempo.
Essa concepção de
renascimentos paralelos está muito presente em várias correntes espiritualistas
e esotéricas, até mesmo alguns espíritas mal informados, infelizmente também
passam a compartilhar desse ponto de vista. Por isso, é importante apresentar o
posicionamento do Espiritismo sobre a questão.
Segundo os defensores das reencarnações
simultâneas, as porções de uma mesma alma, coexistindo simultaneamente como
personalidades individuais, podem viver em localidades distantes ou próximas,
numa mesma época e dimensão ou em épocas e dimensões diferentes. Já que para a
Alma ou Espírito matriz, o tempo e o espaço são relativos.
Dois fragmentos também podem
se reencontrar em determinado momento e, sendo frações de uma mesma consciência
maior, constituirão o que comumente se denomina de almas gêmeas. Logicamente
que após o desencarne, essas parcelas da alma original, perdem a sua
individualidade e retornam cada uma no seu próprio tempo, ao todo, que absorve
todas as experiências vivenciadas por essas personalidades fragmento.
Na opinião desses divulgadores, o momento
atual é mais propicio para esse tipo de renascimento, pois, a transição
planetária, potencializa a necessidade de uma maior quantidade de experiências paralelas
visando à limpeza mais rápida dos espíritos e acelerando o processo evolutivo.
Na
verdade a crença nos fragmentos da alma, não é uma novidade, o misticismo
judaico ensinava isso há muitos séculos. A Cabala judaica [1] informa, por
exemplo, que a alma de Adão, o homem primordial, depois do pecado,
fragmentou-se e as centelhas resultantes continuaram a se dividir, encarnando e
reencarnando. Desse modo, para a cabala, todos os seres humanos são partes
individuais da alma original de Adão.
Naturalmente que essa visão
cabalística e Bíblica sobre a origem da humanidade não condiz com a realidade
cientifica e histórica. Mas, demonstra a antiguidade desse sistema.
Allan Kardec, sabendo que
muitas escolas espiritualistas defendiam essa antiga opinião, interrogou os
Espíritos Superiores acerca do tema na questão 137 de O livro dos Espíritos [2],
perguntando se haveria alguma possibilidade de um mesmo espírito encarnar em
dois corpos diferentes. E recebeu como resposta um peremptório: “- Não. O Espírito é indivisível e não pode
animar, simultaneamente, dois seres diferentes.”.
O Espírito Miramez através da
psicografia do médium João Nunes Maia também esclarece a questão afirmando:
“O Espírito conserva sua
individualidade em todas as dimensões onde é chamado a servir. Não há
necessidade de se dividir, do modo que alguns espiritualistas pensam, com um só
Espírito animando variados corpos. A abundância de almas criadas por Deus
tira-nos essa idéia.” – “[...] Há muitas escolas espiritualistas que apóiam
essas idéias, de que a alma pode animar simultaneamente muitos corpos materiais
e em vários lugares, bem como, igualmente, trocar de corpos quando necessário,
sem o processo de reencarnação. Respeitamos todas elas, no que elas ensinam
para edificar o homem, o que elas ensinam de verdade e, muito mais, de Amor,
mas, no que diz respeito a essa extravagância teórica, não podemos concordar,
por fugir da lei e por não termos presenciado a nenhum caso que garanta a sua
veracidade.” [3].
Alguns espiritualistas ainda utilizam o conceito
de ubiquidade contido na questão 92 de O Livro dos Espíritos para dar suporte
aos renascimentos simultâneos. Nessa questão Kardec indaga aos Espíritos o seguinte:
“- Os Espíritos têm o dom da ubiquidade?
Por outras palavras, o mesmo Espírito pode se dividir ou existir em vários
lugares ao mesmo tempo?” E a resposta dos Espíritos foi clara: “ - Não pode haver divisão do mesmo
Espírito, mas cada um é um centro que irradia em diversas direções e é por isso
que parecem estar em vários lugares ao
mesmo tempo. Vês o Sol? É apenas um. No entanto, ilumina tudo ao redor e leva seus
raios a longas distâncias; apesar disso, ele não se divide.
O codificador ainda pergunta:
“- Todos os Espíritos se irradiam com o
mesmo poder? E os Espíritos Superiores respondem:” – Muito longe disso, depende do grau da sua pureza.
Assim sendo, os Espíritos
podem, dependendo de sua evolução e pureza, manifestar o seu pensamento
concomitantemente em vários lugares, mas, não podem utilizar-se dessa faculdade
para reencarnar em corpos diferentes.
Jefferson Moura de Lemos
REFERÊNCIAS
[1]
“A palavra Cabala
vem da raiz Kabbel, que significa receber. Compõe-se de diversos livros, sendo
o mais expressivo deles o Zohar, obra atribuída ao rabino Shimon Bar Yochai,
que viveu no século II. Um estudo exato desses livros exige o domínio do
hebraico, considerado um alfabeto sagrado.”.
NISKIER,
Arnaldo. ZOHAR – A ALMA DA CABALA. Revista Brasileira, Fase VIII
Outubro-Novembro-Dezembro 2011, Ano XVII, Nº 69. Academia Brasileira de Letras.
PDF
[2]
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de
Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 82ª edição, 1994.
[3]
MAIA, João Nunes. Ditado pelo Espírito Miramez. Filosofia Espírita - volume 3,
p.41. Belo Horizonte, Espírita Cristã fonte Viva, 1988, pdf.
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