“Logo se reconhecerá que o Espiritismo ressalta a cada passo do próprio texto das Escrituras Sagradas. Os Espíritos não vêm, pois, destruir a religião, como alguns o pretendem, mas, ao contrário, vêm confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis.” (O Livro dos Espíritos, questão 1010)

segunda-feira, 9 de junho de 2025

COMER PÃO, BEBER VINHO…

 


“E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é meu corpo que vos é dado.

“Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento do meu sangue, que é derramado por vós.”

(Lucas, 22:19-20)

 



 

O ato comemorativo da Páscoa, da forma como o é realizado na atualidade, representa flagrante contraste com tudo aquilo que Jesus Cristo objetivou ensinar através do singelo ato da última ceia, quando congregou os apóstolos para o último encontro que antecedeu a sua crucificação.

 

A realização da chamada última ceia tem um sentido bem mais profundo, pois o anseio do Mestre era de propiciar aos seus apóstolos um ensinamento sobre a necessidade de troca de ideias sobre a nova doutrina, confraternização, entrelaçamento, fraternidade, unificação, e obviamente constituiu um grandioso ensino endereçado a posteridade.

 

Entretanto, o ato realizado pelo Mestre, quando cada um dos presentes comeu um pedaço de pão e tomou um pouco de vinho, após sofrer o impacto de constante deturpações, tem servido no decurso dos tempos, para justificar a realização de verdadeiros festins materiais, quando o vinho é utilizado em excesso, muitas vezes com danosas consequências, e o uso de carnes das mais variadas espécies suplantou o singelo uso do pão.[1] 

 

O ato tem servido mesmo para que alguns homens procurem nele uma justificativa para excessos no uso do vinho, afirmando que Jesus Cristo era apologista do seu uso, tendo mesmo, nas Bodas de Canaã, convertido água em vinho, esquecendo-se de que ainda nesse caso o Senhor teve por objetivo ensinar que as doutrinas religiosas que se fundamentam sobre as coisas do mundo, sobre as coisas materiais, terão que se espiritualizar, para atender o reclamo dos seus seguidores, pois só assim poderão tomar parte no grande festim que o Cristo definiu como “conquista do reino dos céus”.

 

Teria Jesus Cristo se reunido com os apóstolos meramente para que juntos comessem pão e bebessem vinho, ou objetivou ele propiciar aos seus pósteros um ensinamento de grande profundidade?

 

Nenhum dos atos comuns da vida do Mestre deixa de encerrar uma mensagem e é óbvio que nesse caso não poderia haver exceção. O pão representa o corpo doutrinário de sua Doutrina e o vinho significa que ela se fundamenta sobre o Espírito.

 

São numerosos os ensinos de Jesus sobre o pão espiritual e para se verificar isso basta recorrer aos Evangelhos:

 

“Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o Maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim [2]. Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o Maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre” (João, 7:48-51; 57-58).

 

Moisés prometia as coisas da Terra. Os Judeus daquela época ambicionavam possuir a Terra de Promissão.

 

Jesus veio trazer a mensagem para ensinar aos homens a conquista do Espírito.

 

Por isso, os seguidores de Moisés comeram o Maná e morreram porque o pão que pretendiam era meramente para o sustento do corpo. Jesus, no entanto, trouxe o pão espiritual, do qual quem comer terá a vida eterna, isto é, passará a assimilar as coisas que dizem respeito ao Espírito.

 

Além dos doze apóstolos, Jesus Cristo também teve outros setenta discípulos mais ou menos dedicados. Certa vez, conforme relata o evangelista João (6:60-65), após ter proferido um discurso sobre o sentido de sua Doutrina, dizendo “minha carne verdadeiramente é comida, e meu sangue verdadeiramente é bebida”, foi sumariamente abandonado por esses setenta discípulos, os quais disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?

 

O mestre asseverou que não se pode pôr vinho novo em odres velhos, do contrário ele não suportará a fermentação e se romperá. A sua doutrina, embora tenha como um dos seus fundamentos as leis morais recebidas por Moisés no Monte Sinai, é sempre nova e não poderá ser suportada pelos “odres velhos’ de antigas concepções religiosas, pelo sistema arcaico que se fundamenta sobre leis transitórias destinadas a servirem determinada época, ou em dogmas estabelecidos por grupos ou pessoas, que sempre se insurgiram contra as ideias reformistas.

 

Ainda desta vez o Senhor teve por objetivo proclamar que o sentido profundo de sua doutrina estava contido na expressão “carne e sangue”. Carne porque ela é um corpo individual, inalterável; sangue porque ela é dinâmica e não estática. A sua doutrina é um corpo ativo, atuante, que não pode ser compreendida nos moldes como o era até há pouco tempo: uma doutrina estanque, sem vibração, divorciada da ciência, ciosa de ser a exclusiva monopolizadora de toda a verdade, zelosa dos seus dogmas e portadora de outros prejuízos.

 

O corpo doutrinário é animado pela força e pela vibração. Se qualquer uma das veias desse corpo deixar de receber o influxo do sangue, ela se esclerosa, se petrifica.

 

 

 

Paulo Alves Godoy

Os Padrões Evangélicos

2ª Edição: Edições FEESP: São Paulo

agosto de 1989.

 

 

Observações do blog:

 

 

[1] (1Coríntios 11:20-34)

 

[2] “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim”.

Essa passagem contrasta com a doutrina comum às religiões tradicionais Católica e Protestante, que é a Trindade, onde Deus e Jesus são partícipes da mesma substância e igualmente são “Um”.

Entretanto no texto Jesus esclarece que o Criador vive, isto é, tem a vida em si mesmo; em outras palavras, Deus é autoexistente, e não depende de nada para existir. 

Mas, Ele, Jesus, vive pelo Pai, quer dizer, sua existência depende de Deus; não sendo, dessa forma,  autoexistente como o Pai , mas dependente do agente criador que é o Eterno.

Do mesmo modo, nós dependemos de Cristo, significando que, sendo Ele o responsável do Orbe terreno, precisamos nos alimentar da sua doutrina moral para estar também em comunhão com Deus.

Então, se levarmos essa passagem ao pé da letra e identificarmos Jesus como o próprio Deus porque Ele vive pelo Pai, poderíamos supor que também seremos Deus por se alimentar e viver por cristo.   

Todos os seres dependem de Deus, nada existe fora do Pai: “porque Nele vivemos, e nos movemos, e existimos.  (Atos 17:28)

 

domingo, 8 de junho de 2025

O ESPIRITISMO E O ABORTO

 

Com a palavra o Mestre Allan Kardec, que pergunta aos Espíritos: Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período de gestação? – Ao que respondem os mensageiros da espiritualidade: “Há crime sempre que transgredis a Lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que estava formando”. (O Livro dos Espíritos, questão 358).



Com certeza, no intuito de trazer mais esclarecimento sobre o assunto, o Codificador do Espiritismo volta a perguntar: Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda? – E os espíritos respondem com sabedoria: ”preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe”. (O Livro dos Espíritos, questão 359).

A resposta é de clareza solar: se o aborto é para salvar a vida da mãe, só e unicamente neste caso, é permitido. Qualquer outro tipo de aborto, provocado voluntariamente, é criminoso.

Todavia, não se confunda evitar filhos para controle da família, com abortá-los. E embora determina a Bíblia: “crescei e multiplicai-vos”, temos que fazer bom uso do livre-arbítrio e da razão, com o devido respeito às condições econômico-financeiras de cada um. Assim, os casais, a fim de não incorrerem na prática do aborto criminoso, podem adotar, para controle da natalidade, os métodos naturais e os recomendados pelos médicos à saúde.

Mas que razões levam as criaturas à pratica do aborto? Os pretextos são os mais diversos: aumento descontrolado da população mundial, medo da censura social ao filho bastardo, ocultação de relacionamentos amorosos ilegais, dificuldades econômicas, preconceitos sociais, prostituição e outros [1].

Ora, erros não podem justificar erros. Não é verdade? Podemos aceitar aquelas razões como dificuldades e, como tais, admiti-las como provas a serem superadas tranquilamente, sem que seja necessário a prática do aborto.

Sobejamente provado está que o aborto provocado é a grande tragédia dos tempos modernos.

Mas, enfim, que implicações, que comprometimentos traz o aborto delituoso para o futuro espiritual daqueles que o praticam?

Ensina o Espiritismo que o aborto provocado acarreta para o Espírito encarnado (a mulher) implicações ou consequências espirituais profundamente desastrosas.

Temos em mãos o livro de André Luiz “Ação e Reação”, psicografado por Chico Xavier, em que um médico da Espiritualidade diz: “A mulher que promove (o aborto) ou que venha a coonestar[2] semelhante delito é constrangida, por leis irrevogáveis, a sofrer alterações deprimentes no centro genésico de sua alma, predispondo-se geralmente a dolorosas enfermidades, quais sejam a metrite, o vaginismo, a metralgia, o enfarto uterino, a tumoração cancerosa, flagelos esses com os quais, muita vez, desencarna, demandando o Além para responder perante a Justiça Divina pelo crime praticado”. [3]

Como vemos, é sábia a orientação do irmão espiritual. Mas, não é tudo. E o processo obsessivo a que está sujeita a criatura que pratica o aborto?

Os Espíritos, impedidos pelo aborto de retornarem à vida física, se sentirão frustrados e, assim, provavelmente perseguirão aquela que seria sua mãe, seu pai e outros que participaram do ato criminoso.

A obsessão inicia-se nesta existência e às vezes, passa para futuras encarnações. É o cumprimento da Lei de Causa e Efeito. [4]

DEUS é AMOR, mas também é justiça. Suas leis são justas, perfeitas e sábias. Delas, ninguém jamais poderá fugir.

 

 

Severino Barbosa

O Espiritismo e a Indústria do aborto

Extraído da Revista Internacional de Espiritismo

Ano LXXIV – nº 12 – Matão, Janeiro, 2000

Página 563

 

 

  

Observações do Blog:

[1] Apesar do texto ser dos anos 2000, o conteúdo continua extremamente atual. Hoje em dia algumas mulheres, com o intuito de exercerem determinadas ações que antes eram exclusividade social dos homens, aderem à ideia de legalidade total do aborto (a legislação brasileira atual permite apenas em casos específicos) a fim de praticarem uma “liberdade” que se iguala ao machismo que tanto combateram.

[2] Dar aparência de honesto ou de conformidade com a honra

[3] As implicações Cármicas não atingem somente a mulher mas, a todos os envolvidos no ato, cada um com o seu grau de responsabilidade e consciência. 

[4] Tudo depende da condição evolutiva da entidade que iria reencarnar, se for um espírito mais evoluído a sua capacidade de perdoar minimizará a frustração e a revolta, se for ainda atrasado moralmente, poderá realmente voltar-se contra aqueles que seriam seus parentes.

 

QUE É A VERDADE?

  

“Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade?”

                  (João, 18:38)

 

 

Afirma o Evangelho de João que, ao entrar Pilatos na audiência, após um ligeiro colóquio com Jesus Cristo, perguntou-lhe: “Logo tu és rei?”, indagação que mereceu do Mestre a seguinte resposta: “ Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”.


 

Face a uma resposta de tamanha grandeza, Pilatos limitou-se a perguntar-lhe: “ Que coisa é a Verdade?”

 

Entretanto, como o obscurantismo e os interesses mundanos sempre foram os maiores inimigos da verdade, houve naquela hora um início de tumulto no pátio do pretório, provocado pelos fanáticos que ali estavam sob a égide dos escribas, dos fariseus e daqueles que tinham nas mãos os poderes religiosos, todos eles interessados na crucificação do tão esperado Messias.

 

A pergunta ficou, portanto, sem resposta, uma vez que as trevas se fazem sentir sempre, nos momentos psicológicos, em todos os lugares onde a luz do esclarecimento ameaça brilhar.

 

Talvez o Mestre não quisesse discorrer sobre a verdade com um homem que não a podia compreender, pois, minutos após, apesar de não ver em Jesus qualquer crime, não trepidou em entregá-lo nas mãos dos seus detratores para que o levassem ao sacrifício. Qualquer elucidação sobre a verdade também não interessava aos Espíritos trevosos, interessados na consumação do hediondo sacrifício da cruz.

 

Evidentemente, Pilatos não tinha qualquer noção sobre o que fosse a verdade. A verdade apregoada pelos judeus não calava bem aos olhos do procônsul romano. O representante do Império não podia aceitar como expressão da verdade os seguintes ensinamentos ministrados pelos escribas:

 

  • Teria o mundo sido criado em seis dias?

  • Teriam Adão e Eva sido os primeiros habitantes da Terra?

  • Teria realmente Josué conseguido parar o movimento do sol para poder completar um morticínio.

  • Como poderia Moisés receber do alto um mandamento que ordenava o “não matarás”, e ele mesmo ordenava verdadeiras matanças de criaturas humanas?

  • Se Caim matou Abel e saiu pelo mundo, não existindo qualquer outra mulher, como poderia ele constituir família e ter descendentes?

  • Teria realmente Jonas vivido três dias e três noites no ventre de uma baleia?

  • Poderia a mulher de Lot transformar-se numa estátua de sal?

  • Com que técnica poderia Noé ter construído uma arca tão descomunal que pudesse abrigar em seu interior um casal de cada espécie vivente na Terra? Como poderia ele conciliar dentro dela animais tradicionalmente inimigos bem como alimentá-los durante quarenta dias?

 

 

Desconhecendo Pilatos a interpretação dessas narrativas sob o bafejo do Espírito, é evidente que não podia também aceitá-las como verdadeiras.

 

De forma idêntica, não podia o procônsul entender como poderia ser “eleita” de Deus uma casta sacerdotal eivada de sentimentos felinos e de interesses profundamente políticos e mundanos.

 

Como conciliar os atos maus e cheios de rapinagem desses homens, com os resplendores da verdade? Uma religião que se baseava nas tradições inócuas, nos atos exteriores do culto, no ódio e na vingança, jamais poderia ter qualquer parentesco com o que é apregoado como verdade. Se Jesus chamou os escribas e fariseus de hipócritas, como poderiam eles ser lídimas expressões dessa mesma verdade?

 

O Espiritismo representa o advento do consolador prometido e, como tal, o seu papel é de restabelecer na Terra as primícias da verdade. Evidentemente, quando ele se consolidar definitivamente no seio dos povos, ruirão por terra todos os sistemas e métodos alicerçados sobre a mentira. Tudo aquilo que não for representativo da verdade, será removido dos seus pedestais.

 

Não tendo Jesus Cristo a oportunidade de esclarecer Pilatos sobre o que é a verdade, o Espiritismo vem agora, na hora propícia, quando os tempos são chegados, fazer com que a luz da verdade possa iluminar os horizontes do mundo, onde, até agora, somente tem prevalecido a mentira, o mistério, o orgulho, a vaidade, o fanatismo, a hipocrisia, a intolerância e o ódio.

 

O Cristo poderá, então, através das vozes que emanam dos Espíritos, responder não somente a Pilatos, mas a todos os homens o que é a verdade.

 

 

 

 Paulo Alves Godoy

Extraído do Livro: Os Padrões Evangélicos

2ª Edição: FEESP; São Paulo; 1989

 

 

A GUARDA DO SÁBADO E AS MÃOS NÃO LAVADAS

 

A guarda do dia de sábado, uma das mais rígidas normas estabelecidas pelo grande legislador dos hebreus, e cuja inobservância implicava em agudas punições de ordem religiosa, foi frontalmente ferida pelo Cristo quando curou enfermos, permitiu que seus discípulos colhessem trigo e ordenou às pessoas curadas que transportassem suas camas, tudo em dias de sábado.

No tocante ao que prescrevia a lei sobre a necessidade de lavar as mãos antes de se tomar refeição, Jesus, sem qualquer menosprezo às regras de higiene, mas querendo extirpar da ação a inflexível feição religiosa de que se achava impregnada, permitiu que seus discípulos comessem pães sem que primeiramente tivessem lavado as mãos.


Quando esse fato foi notado pelos fariseus e escribas, não tardou a admoestação: “ Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar?” O Mestre, conforme se depara em Marcos, 7, versículos 2 a 23, elucidou: “ o que contamina o homem não é o que lhe entra pela boca, mas o que sai por ela, proveniente do coração: os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba e a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem”.


Moisés houve por bem instituir a obrigatoriedade do descanso aos sábados como ditames de ordem social, objetivando propiciar um dia de repouso semanal aos animais e ao povo em geral. No que tange a ordenação de se lavar as mãos antes de qualquer refeição, o objetivo primacial do grande legislador foi meramente educar o povo sobre as mais comezinhas normas de higiene, imprescindíveis para se evitar a propagação de moléstias, dada a intensa promiscuidade em que se vivia seu povo. Temendo, entretanto, que aquelas ordenações não fossem obedecidas, Moisés não trepidou em lhes emprestar um caráter divino, atribuindo-as a Deus e ameaçando, com terríveis represálias do alto, aqueles que não as executassem.


Com o advento do Messias, essas crenças deixaram de prevalecer como imposição de ordem religiosa e divina, permanecendo tão apenas revestidas do caráter intrínseco que possuíam: uma necessidade social e uma questão de higiene.


A prática das leis transitórias instituídas por Moisés não custava muito e com extremo rigor era observada. A parte divina da lei, aquelas que foram recebidas mediunicamente por Moisés no alto do Sinai: os dez mandamentos - exigia desprendimento e desapego a muitas coisas da Terra, e, consequentemente, sua observância não tinha muita atenção. O repúdio em seguir leis tão difíceis de serem obedecidas era tão comum, que os mandatários do templo, com o fito de granjearem maior número de adeptos, acenando-lhes com um paraíso fácil, engendraram meios e modos de isentar o povo do seu cumprimento, desde que para tanto fosse feita uma oferta em espécie, conforme narra Marcos, 7:6-13: “Rejeitados o preceito de Deus para guardar-des a vossa própria tradição. Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe, e: Quem maldisser a seu pai ou sua mãe seja punido de morte.


“Vós, porém dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, uma oferta para o senhor. Então o dispensai de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua mãe. Invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição que vós mesmos transmitistes”.


Desse modo a lei divina que compelia um filho a honrar seus pais era anulada através de uma oferenda ao templo.


Dizendo: Misericórdia quero e não sacrifício” (Mateus, 12:7), o Cristo também procurou demonstrar a inocuidade dos sacrifícios e cilícios que se faziam em louvor a Deus. De que pode servir ao Alto o sacrifício de animais, a queima de incenso, de velas e coisas que tais? O Mestre deixou bem positivado a mulher samaritana que Deus é Espírito e em espírito e verdade deve ser adorado pelos verdadeiros adoradores, e que os verdadeiros adoradores são aqueles que fazem a vontade do Pai Celestial.

 

 

 

 

Paulo Alves Godoy

Extraído do Livro: Os Padrões Evangélicos

2ª Edição: FEESP; São Paulo; 1989

Os Pães da Proposição, páginas 148 a 150

 

quarta-feira, 21 de maio de 2025

NINGUÉM VAI AO PAI SENÃO POR MIM

 


“Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.”  (João, 14:6)

     Será que o ateu, ou os membros de outras religiões que desconhecem Jesus, como o maometano, o judeu ou o budista não irão ao Pai?

     Teriam as palavras de Jesus Cristo o objetivo de fazer discriminação entre os profitentes de outras religiões, outorgando apenas aos cristãos as prerrogativas de irem ao Pai?

     Inquestionavelmente, esse não era o pensamento do Mestre, pois, sendo um missionário que veio trazer à Terra uma doutrina de cunho universal, não poderia jamais fazer distinções dessa natureza.

     Para ir ao Pai através de Jesus não basta qualificar-se cristão, ou assentar-se nos bancos de uma religião cristã. É preciso fazer obra de cristão e, para fazer obra de cristão, é necessário não apenas ler, mas viver os Evangelhos, aplicando-o em sua vida de relação.

     Quem teria mais valor aos olhos de Deus: um ateu que pratica o bem, ama o seu próximo, cumpre o seu dever no lar, ou um cristão que frequenta a sua igreja, mas que não pratica qualquer sorte de caridade, não tolera o seu próximo e torna-se um tirano no lar?

     Quem teria mais mérito: uma pessoa que não crê em Deus, mas está sempre disposta a cooperar com o seu próximo, ou um cristão que vira as costas e fecha as portas do coração para tudo e para todos?

     O apóstolo Tiago Menor, ao escrever a sua inspirada Epístola Universal, deixou bem claro que “a fé sem obras é morta em si mesma”, no que foi corroborado por Paulo de Tarso, quando afirmou na célebre Epístola aos Coríntios que “se alguém falar a língua dos homens e dos anjos, ou der o corpo para ser queimado em praça pública, mas não tiver caridade, isso nada significa”.

     De nada adianta proclamar-se cristão, pois assim como João Batista afirmou aos judeus que se arrogavam ser filhos de Abraão, que das pedras existente às margens do Rio Jordão Deus poderia fazer novos filhos de Abraão, é óbvio que mesmo criaturas mais endurecidas podem se proclamar cristãs, mais isso não significa que elas seja cristãs na verdadeira acepção do vocábulo.

      Na parábola do Rico e de Lázaro, vimos o rico chamar Abraão de Pai, o que significa que ele se considerava filho desse grande patriarca, mas ele não fez obras dignas de um “filho de Abraão” e, por isso, foi parar nos planos inferiores onde “há choros e ranger de dentes”.

      Ser cristão significa ser bom rico, um rico que sabe dar uma parcela dos seus bens para o bem-estar dos menos favorecidos pela fortuna; ser bom pobre, que não vive constantemente blasfemando contra Deus e contra tudo; ser caridoso, ser tolerante, ser bom, não guardar ciúmes, vaidades; não ser orgulhoso, déspota ou rancoroso; não cobiçar as coisas alheias nem alimentar inveja contra a prosperidade do seu próximo.

     Em suma, para ir ao Pai, através de Cristo, é preciso viver tudo aquilo que está exarado nas páginas dos Evangelhos, embora quem o faça pertença às mais diversas ramificações religiosas da Terra, mesmo que não sejam do ramo cristão.

     Deve-se também levar em consideração que os antigos mentores religiosos, como Buda, Zoroastro, Krishna, Maomé, Abraão, Moisés e outros, foram também emissários de Jesus que vieram em outras regiões do mundo, a fim de ali deixarem as sementes generosas que germinarão mais tarde, quando os Evangelhos de Jesus estiverem implantados em todos os quadrantes do mundo, quando a época for propícia para haver “um só rebanho sob o cajado de um só pastor”.

     Se os ensinamentos desses missionários divergem, em parte, daquilo que o Mestre Nazareno ensinou, deve-se compreender que isso foi decorrência do próprio atraso moral e espiritual reinante nas respectivas épocas. Não resta dúvida, entretanto, que todas as arestas serão removidas, para que todos venham um dia a conhecer que Jesus é realmente o Caminho, a verdade e a Vida, e que ninguém irá ao Pai a não ser por seu intermédio, isto é, através da assimilação dos seus ensinamentos.

     O amor, a caridade, a fraternidade, a mansuetude, a tolerância são vocábulos universais, e todas as religiões que os consagrarem estarão palmilhando os caminhos batizados por Jesus Cristo.


Paulo Alves Godoy

Extraído do Livro: Os Padrões Evangélicos

2ª Edição: FEESP; São Paulo; 1989